Nem todos podem ter um, mas se pudesse…que maravilha seria! Estamos falando do médico geriatra! Este profissional atua como um maestro, organizando o tratamento multidimensional e interdisciplinar, considerando as respectivas importâncias de cada especialidade e conhecendo as particularidades do paciente idoso.
O geriatra ouve as várias opiniões e atribui pesos a cada uma, sem se perder nos meios dos cuidados, segundo o geriatra oncológico, Gabriel Truppel Constantino, do Instituto Integra Saúde e do A.C.Camargo Cancer Center.
“O geriatra tem também a função de promover a saúde, prevenir e identificar problemas de saúde, antes de agravamentos e de os sintomas ficarem mais difíceis de serem tratados, incluindo exames preventivos e de rastreamento”, afirma.
Quando a pessoa tem várias doenças concomitantes, sendo idoso ou não, a atuação do geriatra melhora o tratamento – a aderência e o foco -, principalmente.
“Se você tiver condições de ter um geriatra para chamar de seu, não importando a sua idade, é muito interessante porque quanto mais ativo e independente você puder envelhecer, melhor”, recomenda Constantino.
A ação do geriatra sobre os sobreviventes ao câncer
É cada vez mais comum ver pacientes idosos com câncer – pessoas que tiveram sucesso nos tratamentos de um, dois e até três cânceres e estar em tratamento de um quarto tumor.
A idade é o principal fator de risco para o câncer e as doenças cardiovasculares.
“Quanto mais se vive, maior o risco de as células se multiplicarem de modo equivocado e gerar algum tipo de câncer. Além disso, os avanços na Medicina, que proporcionam melhores diagnósticos e tratamentos mais eficientes, e a melhoria da qualidade de vida contribuem para que a população viva mais e, com isso, desenvolva essas doenças associadas à idade”, considera o geriatra.
Independentemente da idade, há uma parcela da população que tem mais riscos para doenças oncológicas e mais chances de desenvolvê-las por conta de alterações genéticas familiares.
Como deve ser o cuidado com um idoso
O idoso com câncer ou com qualquer outra doença grave deve ser cuidado de acordo com o seu grau de fragilidade e funcionalidade, que impactam sua capacidade de enfrentar novos problemas e tratamentos, segundo Constantino. É aí que entra o geriatra para ajudar o oncologista a entender quem é essa pessoa que não tem só câncer.
Independentemente da idade, o que é bom para uma pessoa que trata apenas o câncer, pode não ser adequado para quem trata o câncer e outras doenças com complicações. “O idoso merece ser melhor avaliado, sendo ele sobrevivente de câncer ou não, para ter um tratamento mais individualizado”, diz.
Recomendações ao idoso: alimentação balanceada, atividade física, convívio social
“No envelhecimento, vê-se muita gente reduzindo o consumo de proteína, isso deve ser evitado porque a proteína está relacionada diretamente à construção e à manutenção de massa magra e massa muscular em todas as fases da vida, inclusive nas maiores idades”, ressalta Gabriel Truppel Constantino.
Recomenda-se aos idosos esse consumo de proteína, algumas vezes com suplemento, e a prática de atividade física para todos, com doenças ou não. O ideal é procurar adaptar o exercício aos gostos da pessoa e às suas condições motoras e socioeconômica.
O convívio social é altamente recomendado pelos geriatras. Conviver não apenas com a família, mas também com pessoas diferentes, de diferentes faixas etárias. Essa interação social melhora a parte cognitiva, incluindo memória e raciocínio, além do humor.
A partir de qual idade se recomenda buscar o geriatra?
No Brasil, considera-se idosa a pessoa a partir de 60 anos. Mas esse conceito não cria uma regra etária para buscar o médico especialista no cuidado com pessoas idosas. Apesar de não haver uma idade definida para se consultar com o geriatra, quanto mais velho, maiores as chances de aparecerem problemas de saúde simultâneos e de ter fragilidades.
“O ideal é que toda pessoa tenha um clínico de referência, capaz de olhar o paciente de modo integral, ou o médico de família”, orienta Constantino.
Para ele, considerando a população crescente de idosos e o número reduzido de geriatras, o ideal é que todo médico tenha noção sobre como cuidar de idosos, já que a população brasileira está envelhecendo.
A Geriatria tem poucos especialistas no Brasil
O Brasil conta com 1.405 geriatras no Brasil, o que representa um médico para cada 24 mil idosos. A Organização Mundial da Saúde recomenda que essa relação seja de um para cada mil idosos.
Esses dados são do Conselho Federal de Medicina e da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), que consideram esse número muito pequeno, visto que a população brasileira de idosos é crescente, de acordo com o IBGE.
Os geriatras tendem a estar concentrados nos grandes centros, como São Paulo. Pelo perfil do seu público, essa área da Medicina tem consultas mais demoradas, característica que a restringe em relação à maioria dos planos de saúde, que se caracterizam por atendimentos mais rápidos.
Segundo estimativas da Organização das Nações Unidas, em 2050, a cada cinco pessoas, uma terá mais de 60 anos. Pela primeira vez, haverá mais idosos do que crianças e jovens abaixo dos 15 anos no planeta. Esse mesmo cenário vale para o Brasil.
Geriatras concentrados no Sudeste e em São Paulo
A geriatria tem baixo número de profissionais e os existentes estão concentrados na
região Sudeste, onde estão 824 deles, sendo a metade só no estado de São Paulo.
De acordo com a SBGG-SP, sobram vagas de residência médica para essa especialidade.
Esses números revelam a necessidade de políticas públicas que priorizem a saúde dessa população idosa e valorizem o envelhecimento ativo.
Por parte dos pacientes, os dados ressaltam a importância de procurar ter um clínico ou médico da família que possa cuidar dos idosos de maneira mais integral.
E para os estudantes de Medicina, esses dados jogam luz sobre um segmento que carece de profissionais e essa carência será crescente, assim como o crescimento da população idosa.